Nascida de pais apaixonados em 1948, Belo Horizonte, desde o berço tornei-me familiar a lentes apontadas em minha direção. Cresci deslumbrada pela luz, pela arte, atraída por imagens das sete revistas assinadas por meu pai. Aos 14 anos namorei um vizinho, fotógrafo correspondente do Jornal do Brasil, que recebia revistas estrangeiras especializadas. Nelas, o fascinante mergulho em fotografias de renomados fotógrafos europeus e norte-americanos. Com ele começou a surpreendente aventura da busca do clique. Casamos. Um quarto do apartamento virou laboratório, onde vivíamos horas entre filmes e a magia da imagem sendo revelada. Fomos para Paris, fiz dois anos de Psicologia na Universidade Paris VII, Jussieu-Sorbonne e deixei o curso para tornar-me fotógrafa. Com uma Nikkormat viajei só, por três meses, pelos USA e México, captando as imagens do primeiro portfólio, a partir do qual consegui trabalhos em São Paulo. Sempre fotografando em preto e branco, revelava meus filmes, ampliava minhas fotos em longas jornadas químicas de laboratórios caseiros. Em 1975 retornei para o Rio de Janeiro com o segundo marido. Dediquei-me à Antropologia Visual acompanhando pesquisas de uma antropóloga e uma socióloga em temas como: Homossexualismo, Medicina Social, Amamentação. Fiz então um livro, Bairro dos Índios, sobre uma comunidade de pescadores, onde passamos a morar. Ali preparei o segundo portfólio. O livro, aceito para ser publicado pela Funarte, nunca o foi pois partíamos para morar na Europa. Foram cinco anos fora do Brasil, dois entre Inglaterra, Paris, Grécia e Milão, três em Nova York, fotografando gente em metrópoles e vilas, revelando, ampliando. Desde os anos 70 participei de publicações e exposições coletivas e individuais, destacando-se as mostras La photographie contemporaine en Amerique Latine (Centre George Pompidou, Paris, 1981), Turning the map: images from the Americas(Camerawork Gallery, Londres, 1992), Canto a la realidade (Casa de América, Madrid, 1993), La Utopia Amorosa (Centro Cultural Borges, Buenos Aires, 1996). Por ideal, transformei convites para exposições individuais em mostras coletivas tanto em Londres, em 1983, quando fui curadora da mostra New photographers in Brazil para a Photographers Gallery, galeria precursora no cenário fotográfico europeu, quanto no Rio de Janeiro, em 1988, na Galeria Laura Alvim. Em 1990, pela participação ativa no movimento fotográfico e curadoria da exposição Imagens Republicanas do Arquivo Nacional, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, em 1989, fui convidada por Paulo Herckenhoff, então diretor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, para dirigir seu Departamento de Fotografia, cargo que não assumi, pois o diretor deixou o museu. Tenho fotos nos acervos do MAM, da Pirelli MASP, do Centre George Pompidou, e outros. Em 1991 tornei-me vegetariana e, em 1994, para chegar mais perto de mim, minha alma levou-me com os dois filhos para uma fazenda em Lavras, Minas Gerais. Pousei os olhos em mistérios, estrelas, constelações, árvores, encostas, águas. A necessidade de transformação uniu-me a grupos de serviço voluntário para o Bem e afastou-me da fotografia por sete anos. Por necessidade de expressão, escrevi poemas e construí uma casa, depois outra. Flores ao vento e luzes chamaram de volta a Nikkon fungada. Paguei um tributo, tive de treinar a arte de fotografar. Sempre revelei, ampliei e editei, tanto as criações analógicas, quanto as digitais, que chegaram em 2003. Em 1999, montei o último laboratório, minha consciência ampliara e logo não mais suportava odores ácidos e tanto gasto de água. Nele criei o ensaio Autobiografia em construção, apresentado no Festival Internacional de Fotografia Fotofest, em Houston, USA, e também no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Desde então, incessantemente chegam trabalhos, voluntários ou não. Em 2002, realizei a última documentação analógica em cor e preto e branco: Funil, uma paisagem perdida. Abarcou os patrimônios natural, edificado e cultural atingidos pela construção da Hidrelétrica Funil, ao sudeste de Minas Gerais. Daí em diante sempre trabalhei digitalmente. Documentei a recuperação de voçorocas em Nazareno. Há 10 anos faço capas de livros de José Trigueirinho Netto para a Editora Pensamento. Para grupos de serviço, além de ensaios fotográficos criei quatro sites, logomarcas, materiais gráficos. Mesmo afastada do mercado fotográfico nacional, sou chamada para dar palestras, participar de trabalhos coletivos e publicações. Em 2007, foi realizada uma grande individual de meu trabalho: Retrospective de Ana Regina Nogueira. Com curadoria de Pierre Devin, ocupou várias salas do castelo MAMAC, em Liège, na Bélgica. Com absoluta fé, a partir de 2012, por um ano e meio, acompanhei três videntes e peregrinos em aparições públicas de Maria por diversos estados brasileiros, Portugal, Uruguai, Argentina e Paraguai. Para esse grupo foram criados 13 audiovisuais e ensaios fotográficos. Parei esse trabalho para escrever um livro, sugerido por Trigueirinho: Viver o amor aos cães, lançado pela Editora Irdin, em agosto de 2014. Logo escreverei outro, já encomendado. Vivo irmanada à fotografia e às palavras. Abrem meu coração, ensinam-me a amar tudo e todos.
- Família em família
- Usina Hidrelétrica Funil, uma paisagem perdida
- Brasileiros pós 1973
- Olhos n'água
- Maria de Barro: crianças recuperam voçoroca
- Corpus Christi
- Carnaval barroco digital
- 360º
- Deus e o diabo na terra do sol
- A noite escura da alma
- New York e Iowa/USA
- Français e Italianos
- Greece
- The English
- Vila de pescadores: imagens de criação, destruição, recriação
- Canoa Quebrada
- Os homossexuais vistos por entendidos